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Dados indicam que 20 milhões de brasileiros passam fome, disparada inflacionária no país causa condições restritas de acesso a alimentos em qualidade e quantidade
Cerca de 20 milhões de brasileiros, o equivalente à população do Chile, declararam passar 24 horas ou mais sem ter o que comer. Outros 24,5 milhões não têm certeza de como se alimentarão no dia a dia e sofrem com uma redução de quantidade e qualidade em seu cardápio.
A alimentação é um direito social garantido pela Constituição Federal. Ainda assim, o levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) indica que mais da metade dos brasileiros (55%) afirmaram sofrer com insegurança alimentar em 2020, o número corresponde ao dobro da população da Argentina.
A pesquisa foi realizada antes da disparada inflacionária sobre os preços dos alimentos no Brasil, o que significa que o cenário ainda deve se agravar. O presidente, Jair Bolsonaro, reconheceu o aumento dos preços no país, mas relativizou a crise inflacionária. “Essa crise é no mundo todo. Não é só no Brasil”, afirmou em sua live (07/10).
Mas o cenário brasileiro deve ser pior do que em outros países por conta de alguns fatores. Dentre eles, as crises climáticas e a alta do dólar, que aumentaram os custos de produção do setor de alimentos. Além da política econômica adotada pelo governo, com foco na exportação de commodities (a qual ocasiona inflação por demanda).
Em setembro de 2021, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de difusão para alimentos indicou que o percentual de itens com aumento de preços era de 64%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos com maior alta registrada foram o açúcar (44%), o óleo de soja (32%) e as carnes (25%).
Para Daniel Balaban, representante da United Nations World Food Programme, o Brasil tem uma estrutura tributária muito pesada sobre o consumo (devido a impostos como o ICMS), o que dificulta o acesso a alimentos e contribui para o cenário da fome no país. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, a carga de impostos sobre alimentos no Brasil é de 22,5%, a média mundial é de apenas 6,5%.