Um conto visual e emocional que sussurra ao coração em tempos de tanto ruído

Alguns filmes não precisam gritar para serem ouvidos. “A Lenda de Ochi” é uma dessas raras experiências cinematográficas que se aproximam devagar, com suavidade e confiança, deixando uma marca profunda sem recorrer a grandes discursos ou reviravoltas espalhafatosas. É uma obra que aposta no silêncio, na imagem e na emoção — e vence justamente por isso.

Desde os primeiros minutos, é evidente que estamos diante de um universo visualmente encantador. As paisagens respiram. As criaturas encantam. Cada detalhe da ambientação parece esculpido com carinho. Há uma qualidade quase espiritual nas imagens, uma beleza que mistura o sonho com a natureza bruta. Esse encantamento silencioso conduz toda a narrativa, que prefere sugerir a explicar, confiar a conduzir.

A trama é simples, mas tocante. Trata-se de laços — aqueles com os quais nascemos e aqueles que escolhemos. “A Lenda de Ochi” mergulha na ideia de pertencimento, de conexão e de escuta mútua. Ao abrir mão de diálogos convencionais e se comunicar por gestos, olhares e sons, o filme convida o espectador a sentir, e não apenas entender. E, nesse processo, emociona. Profundamente.

Ochi, a criaturinha que dá nome ao filme, é uma pequena maravilha. Ao mesmo tempo enigmático e adorável, ele transcende a função de mascote e se torna um elo simbólico entre mundos. Sua presença carrega uma doçura que não soa forçada — e, mais importante, desempenha um papel central na jornada emocional dos protagonistas. Em um mundo fragmentado, ele representa a possibilidade de compreensão sem palavras.

É verdade que o ritmo lento e a narrativa mais contemplativa podem não agradar a todos. Há momentos em que o filme poderia ser mais conciso ou aprofundar certas relações. Mas essas questões não ofuscam o que “A Lenda de Ochi” faz de melhor: tocar o espectador por dentro. E quando um filme consegue nos emocionar apenas com o som de uma respiração compartilhada ou o brilho de um olhar, já fez mais do que muitos roteiros verborrágicos jamais alcançarão.

Saí da Cabine de Imprensa Virtual com o coração leve. Gratos pela arte que escolhe a delicadeza ao invés do impacto. Pela coragem de contar uma história que sussurra ao invés de rugir. E por lembrar que, às vezes, basta escutar — com os olhos e com a alma — para ser transformado.

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Paris Filmes e Espaço/Z.

Foto: Divulgação/Paris Filmes

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal C+

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