Wes Anderson entrega beleza e pouco mais em seu novo desfile de referências visuais
Quando Wes Anderson lança um novo filme, o público já sabe o que esperar: composições simétricas, paleta de cores impecável e uma estética que salta aos olhos. “O Esquema Fenício”, seu mais recente longa, cumpre com excelência esses elementos visuais. Mas quando se trata da história, a impressão que fica é de um esboço elegante que jamais se transforma em algo realmente substancial.
O filme, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (29), tem no elenco uma de suas maiores forças. Benicio Del Toro lidera a narrativa com presença magnética, mesmo diante de um roteiro que parece não explorar todo o seu potencial. Ao seu lado, um verdadeiro time dos sonhos: Willem Dafoe, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Benedict Cumberbatch, Bill Murray, e até uma participação relâmpago de Charlotte Gainsbourg – tão rápida que é fácil nem perceber.
Esses talentos, ainda que pouco aproveitados, entregam performances marcantes. A dinâmica entre Hanks e Cranston, por exemplo, brilha nos poucos momentos em que dividem a tela, sugerindo uma dupla que merecia mais tempo – uma entre tantas promessas que o longa sugere, mas não cumpre.
Na trama, Zsa-Zsa Korda (Del Toro) é um bilionário excêntrico e amoral que, após sobreviver a mais uma tentativa de assassinato, tem uma visão do céu e decide chamar sua filha, Liesl (Mia Threapleton), prestes a se tornar freira, para assumir seu império duvidoso. O conflito entre o desejo de redenção do pai e a resistência moral da filha guia o enredo – ou pelo menos tenta.
A relação entre os dois é interessante em conceito: enquanto Liesl tenta convencer o pai dos males do trabalho escravo e da exploração, ela mesma começa a se seduzir pelas regalias do crime. O roteiro flerta com discussões sobre ética, herança moral e ambiguidade, mas essas ideias são deixadas de lado em prol de cenas visualmente deslumbrantes e transições estilizadas.
Há um esforço claro em tornar este filme mais dinâmico, com toques de ação, explosões inesperadas e um humor mais direto que os trabalhos anteriores do diretor. Em alguns momentos, funciona. Em outros, parece uma distração diante de personagens que mal saem do lugar e de uma trama que prefere se esconder atrás da mise-en-scène.
“O Esquema Fenício” tem charme, humor pontual e aquela beleza de praxe que já se espera de Anderson. Mas seu conteúdo, embora repleto de potencial, se dilui em meio a referências, estética e maneirismos. O resultado final é um filme que entretém por instantes, mas que se esvai da memória logo após os créditos.
Não é um desastre, mas tampouco é memorável. É Wes Anderson sendo Wes Anderson – o que, a esta altura, já não basta por si só.
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Espaço/Z.
Foto: Divulgação/Universal Pictures Brasil
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