Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Deputada Bia Kicis admitiu ter compartilhado documento com informações pessoais de especialistas que participaram de audiência pública na terça-feira (4)

Três médicos que defendem a vacinação de crianças contra a Covid-19 tiveram seus dados vazados, de forma ilegal, na internet por apoiadores do presidente Bolsonaro. Informações sensíveis como o CPF, e-mail e celular dos profissionais foram divulgadas em grupos bolsonaristas.

O fato ocorreu após a participação dos médicos na audiência pública do Ministério da Saúde, na última terça-feira (4), sobre a vacinação de crianças contra a Covid-19.

As informações pessoais constavam nas declarações de conflito de interesses, entregues ao Ministério. A prática é comum no meio acadêmico para participação em publicações, consultorias e audiências públicas.

Por regra, informações como empresas para as quais os especialistas já prestaram serviços poderiam ser divulgadas publicamente. Contudo, outros dados como o CPF, e-mail e celular dos médicos não podem ser publicadas. A deputada federal Bia Kicis (PSL), aliada do presidente Jair Bolsonaro, afirmou ter repassado os dados pessoais dos três médicos em grupos de WhatsApp.

“Compartilhei em um grupo de WhatsApp de médicos. Quando me avisaram no Ministério da Saúde que alguém havia postado, pedi imediatamente que quem o fez removesse. Mas o ministério me informou que os documentos iriam para o site. Por isso entendi que eram públicos”, afirmou Bia Kicis.

Kicis é procuradora aposentada do Ministério Público do Distrito Federal e um dos alvos da investigação no inquérito sobre produção de fake news e ameaças a autoridades, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ameaças e agressões

Os três médicos afetados pelo vazamento foram: Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações; Marco Aurélio Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Pediatria e Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. Na audiência, todos apresentaram argumentos favoráveis à vacinação infantil e contrários à posição defendida por Bolsonaro e apoiadores.

Um dos especialistas afirmou que o vazamento dos dados teve início ainda durante a audiência e que, logo em seguida, os três receberam agressões e ameaças de grupos antivacina em suas redes sociais e canais de contato.

Posição do Ministério da Saúde

Em nota, a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid, Rosana Leite de Melo, desaprovou a divulgação ilegal dos dados, mas não especificou quais medidas devem ser tomadas. Rosana disse que em texto que a secretaria “não compactua com a divulgação de dados pessoais sem o consentimento dos envolvidos”.

Pauta antivacina

Na quarta-feira (5), o Ministério da Saúde anunciou que a imunização de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19 deve ter início em janeiro de 2022. Um dia depois, o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou contra a vacinação infantil e minimizou o número de mortes de crianças por Covid-19, afirmando se tratar de “quase zero”.

Entretanto, dados do Ministério da Saúde indicam a ocorrência de 308 mortes de crianças entre 5 e 11 anos desde o início da pandemia. O Brasil já registra também aumento de casos de coronavírus em crianças nos hospitais de cidades como São Paulo e Curitiba.

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