Foto: Divulgação/Universal Pictures Brasil.

Explorando a Fé, Perdendo o Foco: O Renascimento da Franquia ‘O Exorcista’

Quando estreou em 1973, “O Exorcista” causou um impacto significativo na indústria cinematográfica, destacando não apenas seu potencial para se tornar um sucesso nas bilheteiras, mas também seu mérito artístico.

Ao longo dos anos, a influência deste primeiro filme da série reverberou nas produções de cinema de horror, seja através das questionáveis sequências que recebeu nas décadas seguintes, ou pela adesão ao subgênero de possessão demoníaca, especialmente após o sucesso do chamado “Invocaverso”, o universo compartilhado de derivados de “Invocação do Mal” de James Wan.

Dada toda essa notoriedade que contribuiu para o desenvolvimento do gênero, não é surpreendente que “O Exorcista” seja revivido nas telas de cinema, sob a direção de David Gordon Green, conhecido por seu trabalho na trilogia mais recente da série “Halloween”. No entanto, surge a pergunta: em um cenário saturado de entidades malignas e padres exorcistas, a série original ofereceria algo inovador?

Em “Exorcista: O Devoto” (The Exorcist: Believer), acompanhamos Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), que, desde a morte de sua esposa em um trágico terremoto, tem cuidado de sua filha Angela (Lidya Jewett) sozinho.

A jovem e sua amiga Katherine (Olivia Marcum) desaparecem na floresta por três dias, tentando estabelecer um contato com a mãe de Angela através de um ritual aparentemente inofensivo. Esse evento desencadeia uma possessão demoníaca terrível, forçando Victor a confrontar seu passado e enfrentar o mal em sua forma pura. Para isso, ele recebe a assistência de Chris MacNeil (Ellen Burstyn), mãe da garota Regan, que já enfrentou essa experiência horrível anos atrás.

Enquanto na trilogia “Halloween”, David Gordon Green explorou o tema da “violência” em suas produções, em “Exorcista – O Devoto”, o diretor (que também coescreveu a história junto com Scott Teems e Danny McBride) procura examinar os diversos aspectos da fé. Essa abordagem é um dos pontos fortes do filme, pois remove o cristianismo do papel de herói exclusivo e defensor contra o mal.

Em vez disso, o filme explora a ideia de que todas as religiões possuem seus próprios rituais de exorcismo e podem confrontar essa força maligna que aflige as crianças. Infelizmente, essa ideia é tratada de maneira superficial pelo roteiro, que recua no desfecho e evita aprofundar o destaque de outras religiões que não estão diretamente ligadas ao cristianismo.

Outro aspecto positivo do roteiro, embora não seja totalmente explorado, é o papel da comunidade na luta contra a entidade maligna. Enquanto em filmes como “O Exorcista do Papa” e “Invocação do Mal”, vemos figuras que se assemelham a super-heróis capazes de resolver os problemas sozinhos, em “Exorcista: O Devoto”, esse papel é atribuído ao coletivo. No entanto, os roteiristas optam por soluções simplistas, que não se alinham com o desenvolvimento da trama.

As atuações em geral são notáveis, com destaque para as jovens Olivia Marcum e Lidya Jewett, que evocam a performance de Linda Blair no primeiro filme, fazendo-nos genuinamente acreditar que a mesma entidade as possuiu.

Os efeitos especiais merecem elogios, especialmente os efeitos práticos que nos remetem à produção original em diversos momentos. No entanto, no último ato, o filme recorre ao uso de CGI, que contrasta com a essência da franquia e prejudica a imersão dos espectadores.

Infelizmente, “Exorcista – O Devoto” não consegue alcançar o mesmo impacto que o filme original teve em sua época. Isso se deve não apenas à saturação do gênero, mas também à falta de maturidade no roteiro, que evita explorar questões que poderiam diferenciar a série.

Isso pode ser resultado da tendência de transformar este novo filme em outra trilogia, seguindo o modelo de “Halloween”. Infelizmente, esse plano prejudica o aspecto artístico que definiu “O Exorcista”, transformando-o em mais um produto nas prateleiras dos filmes de terror.

*Título assistido em Cabine de pré estreia promovida pela Universal Pictures Brasil.
Colaboração: Julia Alves

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