Entre arte e poder, um drama sobre sonhos e dominação

Ficcional, mas com um realismo impressionante, O Brutalista se apresenta como uma história que poderia muito bem ser uma biografia. Inspirado por diferentes vivências de arquitetos judeus nos Estados Unidos, o filme conduz o espectador por uma jornada intensa, marcada por ambição, trauma e a luta por um espaço em um mundo que parece sempre exigir mais.

Dividido em duas partes, o longa inicia sua trajetória em 1947, com László (Adrien Brody) saindo dos campos de concentração e tentando reconstruir sua vida na América do Norte. Acolhido por familiares, sua presença rapidamente se torna um incômodo, uma lembrança viva das dores do passado. Determinado a se firmar sozinho, ele acaba chamando a atenção do magnata Harrison Van Buren (Guy Pearce), dando início a uma relação tão fascinante quanto tensa.

Os encontros entre László e Van Buren são alguns dos pontos mais fortes do filme. Brody e Pearce entregam atuações carregadas de nuances, tornando cada diálogo um jogo de poder velado. O magnata vê o talento do arquiteto como algo a ser explorado, mas sua admiração rapidamente se transforma em ressentimento à medida que a genialidade de László ameaça sua posição dominante.

Enquanto luta para manter o controle criativo de seus projetos, László também se empenha em reunir sua esposa (Felicity Jones) e sua sobrinha, separadas dele durante o Holocausto. Esse drama familiar adiciona mais camadas à narrativa, mas nem todas são bem resolvidas. A jornada da sobrinha, por exemplo, apresenta diversos caminhos que acabam sem desfecho convincente.

Visualmente, O Brutalista impressiona. O filme valoriza as cenas de László projetando edifícios, explorando sua visão inovadora e a grandiosidade de suas obras. A sequência na Itália, onde ele escolhe mármore de Carrara, é um dos momentos mais marcantes da segunda parte, reforçando o peso da arquitetura como expressão artística.

Ainda assim, fica evidente que o longa não é apenas sobre arquitetura. Com o avanço da narrativa, o foco se desloca para temas mais densos, como os traumas do Holocausto, a xenofobia e a falsa promessa do sonho americano.

O filme não se limita a contar a história de um arquiteto talentoso em ascensão, mas sim a questionar a estrutura de poder e dominação por trás desse percurso. László, assim como outros imigrantes e profissionais brilhantes, enfrenta preconceito e barreiras impostas por aqueles que controlam o sistema.

Van Buren se torna a personificação dessa estrutura: um homem que primeiro admira, depois teme e, por fim, busca esmagar a genialidade do arquiteto. Essa dinâmica reflete o controle da elite sobre aqueles que tentam ascender, desmascarando a ideia de que basta trabalhar duro para alcançar o sucesso.

Apesar de sua profundidade e das atuações impecáveis, O Brutalista sofre com algumas escolhas narrativas que deixam pontas soltas. O excesso de subtramas e a tentativa de abordar múltiplos temas fazem com que algumas partes da história percam força.

Ainda assim, a relação entre László e Van Buren, aliada à estética brutalista da direção de Jonathan Glazer, fazem do filme uma experiência envolvente. Ele não entrega respostas fáceis, mas levanta questões poderosas sobre arte, dominação e o verdadeiro custo de um sonho.

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures Brasil.

Foto: Divulgação/Universal Pictures Brasil

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal C+

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