A DreamWorks entrega uma obra sensível e visualmente impressionante que une aventura, reflexão e empatia em uma das melhores animações do ano

Cada um de nós, à sua maneira, segue uma espécie de programação. Assim como máquinas executam rotinas automatizadas para as quais foram projetadas, seres humanos se prendem a hábitos cotidianos que acabam definindo o que fazemos com o tempo que nos foi dado — muitas vezes sem que tenhamos plena consciência disso.

Alternando entre leveza e didatismo, Robô Selvagem (The Wild Robot), nova animação da DreamWorks, convida o público a refletir sobre esses ciclos e o significado de adaptação. Inspirado na trilogia homônima de Peter Brown e dirigido por Chris Sanders, o filme já se posiciona como um forte concorrente ao Oscar e uma provável favorita do público.

Com uma narrativa rica e emocionante, o longa apresenta Rozzum 7134, ou simplesmente “Roz” (dublada por Lupita Nyong’o na versão original e Elina de Souza na versão brasileira), uma robô doméstica criada para seguir comandos simples por meio de uma inteligência artificial que, neste contexto, é retratada com menos receio do que costumamos ver em ficções científicas mais sombrias.

Após um acidente inesperado, Roz é lançada em uma ilha selvagem, onde precisa lidar com a ausência de qualquer tipo de programação ou manual que a oriente. Neste ambiente inexplorado e imprevisível, ela encontra Bico Vivo (Boone Storm/Gabriel Leone), um filhote de ganso órfão e vulnerável. O vínculo que surge entre eles se transforma no coração da narrativa, revelando uma jornada tocante sobre maternidade improvisada e aceitação.

A relação entre Roz e Bico Vivo é tão delicada quanto necessária. A robô, inicialmente despreparada para exercer qualquer papel emocional, aprende a cuidar do pequeno ganso, e juntos, ambos desafiam as expectativas do mundo ao seu redor. Roz é apenas uma “máquina sem sentimentos”, enquanto Bico Vivo, o mais fraco de sua ninhada, teria sido descartado se não fosse o único sobrevivente. A busca por pertencimento e respeito permeia cada passo dessa parceria incomum.

Durante essa jornada, a dupla encontra outros animais memoráveis. Astuto, uma raposa oportunista (dublada por Pedro Pascal/Rodrigo Lombardi), se destaca por sua inteligência calculista. Já Cauda Rosa, uma gambá divertida com sua prole numerosa (Catherine O’Hara/Rosa Maria Baroli), oferece alívio cômico e momentos de ternura.

Visualmente impressionante, com uma fotografia envolvente de Chris Stover, Robô Selvagem se destaca não apenas por sua estética deslumbrante, mas também pela trilha sonora marcante de Kris Bower, que intensifica as emoções da narrativa. A floresta vibrante onde a história se desenrola funciona como um cenário vivo, refletindo a complexidade das questões abordadas, como pertencimento, empatia e, talvez a mais difícil de todas, o luto.

Apesar de seu tom reflexivo, o filme também proporciona momentos de alegria genuína, com diálogos bem-humorados e situações que arrancam sorrisos inesperados — sempre os melhores e mais sinceros. Essa combinação de emoção e leveza é um dos fatores que fazem desta animação uma experiência inesquecível.

Robô Selvagem tem potencial para se tornar uma daquelas obras que revisitamos em diferentes momentos da vida, sempre que buscamos algo que aqueça o coração e inspire a alma.

A mensagem final do filme é profunda: “Às vezes, para sobreviver, precisamos ser mais do que fomos programados para ser.” Essas palavras de Roz sintetizam a essência do longa — um lembrete poético de que, mesmo presos a rotinas e padrões, somos capazes de superar nossas limitações e nos reinventar.

Imperdível.

*Título assistido em sessão regular de cinema

Foto: Universal Pictures

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