Conheça a história de Surya Bonaly
Surya Bonaly, ou se preferir SOL, como era chamada pelos seus pais adotivos em 15 de Dezembro de 1973, em Nice na França. A jovem Surya, fazia parte de uma família de pais aventureiros que realizavam viagens da França para países da Ásia, como Índia ou Paquistão.
A decisão de adotar, veio justamente do entendimento que apesar de belos, esses lugares também são extremamente pobres.
Desde pequena, Surya teve contato direto com o esporte e era muito boa em tudo que praticava. Seja no Hipismo, Patinação, Atletismo ou Ginástica Rítmica, sempre era destaque.
A jovem francesa iniciou sua carreira no esporte com a ginástica rítmica, mas sua paixão era a patinação no gelo artística, onde ficou bastante conhecida e disputou diversos campeonatos.
Começo da carreira na patinação
Tudo começou no ano de 1985, quando a seleção francesa treinada por Didier Gallinaguet, decidiu fazer seus treinos na Riviera francesa. Mesmo lugar onde Surya costumava patinar com sua mãe.
Não demorou muito para que Surya chamasse a atenção do treinador, que a convidou para entrar em sua equipe. No ano seguinte, Surya mudou-se para Paris e iniciou sua carreira juvenil, aos 11 anos de idade. Não demorou muito para que participasse de sua primeira competição internacional na Austrália, essa que terminou em 14º lugar.
Em 1987, o salto foi ainda maior conquistando bronze e daí para frente as conquistas não pararam. No ano seguinte, Surya alcançou 5 medalhas de outro e 2 de prata no campeonato europeu, além de ser campeã do Campeonato Nacional Francês, que lhe trouxe o status de principal representante do país na modalidade individual feminina, por volta de 1992.
Enfrentamento de estigmas
Após todas as vitórias e conquistas, a jovem negra começou a perceber que em competições internacionais, mesmo fazendo apresentações com movimentos difíceis e de grandes atribuições atléticas, suas notas eram menores que outras atletas, apesar de realizarem apresentações muito mais simples.
Mas não parou por aí, nas olimpíadas de 1992, Surya queria ultrapassar esses estigmas e buscou um feito inédito, ser a primeira atleta a realizar um salto quádruplo. Porém, mesmo com sua bela apresentação terminou em 4º lugar na categoria livre e 5º no quadro geral.
A maioria não concordou com o resultado, afirmando que Surya merecia uma medalha e mesmo com apenas 17 anos se mostrou uma excelente atleta. Além disso, o que mais chamou a atenção foi em como os jurados a avaliaram.
Na patinação artística, a graciosidade e postura são consideradas tão importantes quanto os movimentos atléticos, o que cria um estereótipo de “Princesa do Gelo”, o que infelizmente leva em conta a questão racial e o imaginário do popular de forma muito subjetiva e errada.
Contudo, apesar da indignação, vaias e diversas entrevistas dadas pelos franceses contra o resultado e notas dadas pelos jurados, nada mudou.
Campeonato Europeu e mãe como treinadora
Seguindo sua história nas competições, em 1993, Surya venceu pela segunda vez o Campeonato Europeu, quando teve como treinadora sua mãe, Suzanne Bonaly. Os treinos cada vez mais pesados e repetitivos, resultaram na conquista do vice-campeonato mundial em Praga (República Tcheca), com uma margem muito pequena de diferença para a ucraniana Oksana Balui, vencedora do campeonato.
Em 1994, Surya venceu o campeonato europeu na Dinamarca, mas novamente ficou no quase nas olímpiadas de Lintermer na Noruega, com muitos críticos, atletas e o público julgando que Surya havia tido uma performance superior tecnicamente, perdendo na parte artística.
Após isso, Surya chegou no mundial de 94 no Japão, decidida a vencer, mudando seu estilo de patinação focada na parte técnica, com uma apresentação impecável, arriscando muito mais com acrobacias, como um salto triplo e quádruplo, algo jamais feito antes.
Entretanto, apesar de tudo Surya ficou em segundo lugar, atrás da japonesa Yuka Sato, competidora da casa. Logo, decepcionada com essa situação e dos outros anos, Surya se negou a subir no pódio, tirando a medalha de prata do pescoço.
Superação de seus limites
Segundo ela, foi a gota d’água e pensou em desistir de tudo. Surya saiu chorando e sob vaias da arena, um fato que marcou sua carreira para sempre.
Mas Surya não se deixou abater e em 1995 conquistou a medalha de bronze no primeiro Grand Prix de patinação artística no gelo. Mais tarde, veio uma lesao no tendão de aquiles, apos chegar ao 3º lugar no campeonato mundial do Canadá.
Por conta da lesão, a ginasta quase ficou de fora da competição europeia, mas mesmo sentindo muita dor, terminou em 9ª no quadro geral.
Nos jogos de inverno em Nagato no Japão, ainda em 95, seria a última vez que Surya disputava uma olímpiada, devido a sua idade e a lesão que deixava tudo mais complicado.
O marco de sua carreira
Com isso, Surya queria deixar sua marca. Ela foi a última a se apresentar e mesmo lesionada, não conseguindo dar seu melhor, quis participar. No meio da apresentação, Surya deu um mortal de costas, mesmo sabendo que seria punida.
Esse movimento, entretanto, lhe rendeu uma saída com muitas palmas e a garantia do 10º lugar.
Em conclusão, Surya deixou de lado a carreira amadora e também abriu a mão das olimpíadas, se tornando uma artista profissional. Surya então passou a se apresentar na Champions On Ice, de 1996 até 2007, levando a marca de nenhuma queda durante toda a carreira.
Alguns anos depois, Surya acabou se aposentando, fruto de uma cirurgia na medula espinhal, porém continua até hoje ativa formando atletas olímpicas na patinação no gelo. Recentemente, Surya aceitou uma importante tarefa, ser a treinadora da seleção olímpica dos Estados Unidos mas olímpiadas de Tóquio e se diz muito satisfeita com tudo isso.
Surya é cidadã americana desde 2004, quando se apresentava em Las Vegas e ao fim da carreira se mudou para a cidade de Minnesota, onde vive até hoje.
Triste pensar que vários atletas já passaram pelo mesmo que ela só por conta da cor da pele
Matéria muito interessante e inspiradora.