Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Em suas respostas a “capitã cloroquina” mostra-se contrária a postura do presidente da república quanto a pandemia
Depois de ser adiado por conta do depoimento de Pazuello na quinta-feira (20), Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, prestou seu depoimento para à CPI da Covid nessa terça-feira (25). Ela está sendo investigada por suas atuações durante a gestão da pandemia no Brasil.
O depoimento de Mayra começou com o senador Randolfe Rodrigues, que perguntou sobre o conceito da imunização em rebanho, defendido pela secretária. “Induzir imunidade através do efeito rebanho é perigoso. Para grandes populações você não sabe quantas pessoas vão precisar ser submetidas para esse tipo de teoria e ela pode induzir a milhares de óbitos, então eu não concordo com isso de forma generalizada”, reiterou Mayra.
Mayra defendeu em seu depoimento que a melhor forma de imunização em massa era a vacinação, e que não era aconselhável se autoinfectar para conseguir a imunização. “Eu inclusive gravei um vídeo sobre isso dizendo às pessoas que é necessário elas tomarem a vacina mesmo que tenham tido a doença”, disse em resposta ao questionamento do senador sobre a autoinfecção.
Com isso, Randolfe relembrou a fala de Bolsonaro sobre a vacinação no final de dezembro: “Eu tive a melhor vacina, o vírus”. “É uma declaração que acaba indo no sentido contrário do que a senhora mesmo argumentou”, disse Rodrigues. No final do depoimento foi perguntado a secretária se ela recordava alguma fala do presidente sobre quem defendesse o isolamento social, que afirmou não recordar de nada.
“Kit Covid” e crise em Manaus
Em outro momento, Mayra foi questionada por Randolfe sobre a defesa de Bolsonaro da criação do “kit covid”, um pacote contendo sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina e o vermífugo ivermectina, medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, e se sabia das reuniões sobre o assunto, a secretária afirmou que ficou sabendo daquilo apenas com os depoimentos da CPI da Covid.
Além disso, foram apresentados documentos de janeiro desse ano, onde Mayra Pinheiro afirma ser “inadmissível” a não adoção de medidas de tratamento precoce em Manaus, onde ocorreu a maior crise da saúde pública durante a pandemia. Randolfe então, apontou uma contradição ao depoimento de Pazuello, onde afirmava que o ministério nunca tinha recomendado a hidroxocloroquina de forma oficial, o que confirmaria que Eduardo Pazuello tinha mentido.
Diante da fala de Randolfe, Maya tentou reconsiderar sua fala, que foi rapidamente cortada pelo senador. “Hoje tem sido um festival de figuras de linguagem. Acho que vamos ter de inaugurar aulas básicas de literatura nessa comissão parlamentar de inquérito”, encerrou Randolfe.
Depoimento marcado por inconsistências
O senador Otto Alencar (PSD-BA) deu uma entrevista para a CNN após o depoimento de mais de 6 horas da secretária, afirmando que foi marcado por inconsistências, e que todas as contradições fariam parte do relatório final da CPI da Covid.
“São 13 declarações inconsistentes que nós levantamos hoje da Dra. Mayra Pinheiro. Em uma delas, o Renan [Calheiros] perguntou se ela já tinha estado com o presidente da República; ela disse que não. Quando o Randolfe [Rodrigues] perguntou, ela disse que sim”, exemplifica Alencar. “Ela trocou tudo, são 13 incoerências, declarações incorretas.”
Randolfe Rodrigues, após a participação no depoimento, deixou sua conclusão. “O presidente da República, usou cadeia de rádio e televisão e disse que tudo não passava de ‘uma gripezinha’. O depoimento da doutora Mayra só reafirma a responsabilidade (de Bolsonaro) pelos 450 mil mortos até hoje”, completa.