Foto: Anadolu Agency via Getty Image

País vive em conflito desde o golpe de Estado dado em fevereiro de 2021

O aumento da violência em Mianmar, no sudeste asiático, deflagrada pelo golpe de Estado militar, tem criado indagação mundial sobre as ações militares no país.

Desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro contra o governo civil de Aung San Suu Kyi, os grupos locais de defesa dos direitos humanos afirmaram que já são mais de 860 mortos e milhares de feridos entre as vítimas da repressão das forças de segurança contra oponentes desarmados, proclamados manifestantes pró-democracia.

Khin Maung Latt (esq.) e Zaw Myat Lynn (dir.) – Foto: BBC

As mortes sob custódia de dois oficiais da Liga Nacional da Democracia (LND) —partido liderado por Aung San Suu Kyi— fez com que aumentasse a investigação de perseguição e extermínio organizadas pelos militares de Mianmar.

Os oficiais da Liga Nacional da Democracia (LND), Khin Maung Latt (esq.) e Zaw Myat Lynn (dir.), morreram no início de março, ambos tendo a causa de morte desconhecida.

Entenda o caso:

Khin Maung Latt – Foto: BBC

Khin Maung Latt estava em casa com sua família adotiva quando a polícia e soldados identificados pelos vizinhos como membros da 77ª) — divisão de Infantaria Ligeira, unidade conhecida por abusos de direitos humanos) —chegaram pouco depois das nove horas da noite, arrastando-o para fora, chutando e batendo nele.

Na manhã seguinte, a família do oficial recebeu um telefonema da polícia dizendo-lhes que viessem buscar seu corpo em um hospital militar no norte de Yangon. Disseram-lhes que ele havia desmaiado e havia sofrido um ataque cardíaco.

A família não recebeu nenhum relatório oficial sobre a causa da morte e insiste que o homem de 58 anos estava bem de saúde e não tinha doenças conhecidas. Segundo a família e amigos, seu corpo apresentava sinais de vários ferimentos e estava coberto por um pano encharcado de sangue.

Segundo a organização americana de direitos humanos Physicians for Human Rights (PHR), que examinou as evidências, o oficial foi provavelmente vítima de “homicídio” enquanto estava sob custódia, concluiu após examinar fotos do corpo de Khin Maung Latt.

“Certa vez, fui preso e interrogado, então sei como eles arrancam informações de você. Talvez eles acreditassem que ele era conectado ao Comitê Representante do Pyidaungsu Hluttaw (CRPH), o governo rival apoiado pela oposição” disse Ko Tun Kyi, amigo de Khin Maung Latt.

Dois dias depois, a teoria de que os militares estavam visando o partido de Aung San Suu Kyi ganhou mais peso com a morte de outro oficial da LND, Zaw Myat Lynn, ativista dedicado da LND e diretor de uma nova faculdade no distrito industrial de Shwe Pyi Thar — uma das várias abertas sob o governo da LND.

Zaw Myat Lynn – Foto: BBC

Dias antes de ser capturado, ele postou mensagens nas redes sociais chamando os militares de “cachorros” e “terroristas”, e pediu aos moradores que continuassem sua luta revolucionária contra as forças militares.

Pouco antes das duas horas da manhã de 09 de março, soldados arrombaram o portão do colégio onde Zaw Myat Lynn estava com alguns de seus alunos. Na época, ninguém sabia ao certo o que havia acontecido com Zaw Myat Lynn naquela noite.

Às três horas da tarde, sua esposa, Daw Phyu Phyu Win, recebeu o telefonema de um oficial dizendo que seu marido estava morto e que ela poderia ir ver o corpo dele.

A imprensa estatal oficial informou que ele havia caído de costas em um tubo de aço de cinco centímetros enquanto saía da escola, porém, o médico do Physicians for Human Rights, que examinou as fotos do cadáver, concluiu que a explicação oficial não tinha nenhuma credibilidade.

Os militares não se pronunciou sobre o tratamento brutal aos que se opõem aos golpes.

Um funcionário da LND, retrata que os oficiais foram mortos dessa forma para enviar uma mensagem.

“Acredito que eles calcularam que, ao executá-lo de uma maneira tão terrível, iriam provocar medo nas pessoas, fazendo-as recuar” disse o funcionário da Liga Nacional da Democracia (LND).

 
Na última sexta-feira (11), a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu que a escalada de violência em Mianmar deflagrada pelo golpe de Estado militar é uma “catástrofe para os direitos humanos” e pediu o fim da violência para evitar mais mortes e o agravamento da emergência humanitária.

“Em apenas quatro meses, Mianmar passou de uma democracia frágil para uma catástrofe para os direitos humanos. Os dirigentes militares são responsáveis por esta crise e devem prestar contas”, disse em comunicado

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