Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Em resposta à pergunta sobre áudios do STM, o vice-presidente disse que casos de tortura da ditadura civil-militar são “assuntos do passado”
O vice-presidente, Hamilton Mourão, riu da possibilidade de investigação das torturas cometidas por militares durante a ditadura. “Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. [risos]. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, afirmou o general da reserva em coletiva realizada na segunda-feira (18) em frente ao Palácio do Planalto. Não foi esclarecido se ele se referia aos torturadores ou aos ministros do Supremo Tribunal Militar (STM).
A resposta do vice-presidente foi a um questionamento acerca dos áudios divulgados pela jornalista Míriam Leitão e que mostram sessões do STM na época da ditadura militar. Nas gravações, são mencionados casos de tortura. Nos arquivos, a opinião dos ministros do STM não era unânime: alguns defendiam que as denúncias de tortura fossem investigadas, enquanto outros questionavam a validade das acusações.
Áudios
São mais de 10 mil horas de áudio, as gravações foram realizadas de 1975 a 1985 e registram sessões do STM. O historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico, foi o responsável por analisar o material.
Algumas das denúncias mencionadas nas gravações são a tortura de uma mulher grávida de 3 meses, que sofreu aborto após choques elétricos na genitália, e a confissão de um roubo que foi obtida sob agressões de martelo. Os arquivos foram divulgados em 2015 após decisão do Supremo Tribunal Federal. No domingo (17), o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, Humberto Costa (PT-PE) disse que solicitará acesso ao material para apurar possíveis providências.
“A exposição das gravações em que ministros do STM admitem tortura é uma assunção cabal do Estado sobre tudo o que cometeu durante o regime militar”, informou Costa.
Opinião do vice-presidente
O general da reserva Hamilton Mourão afirmou que houveram “excessos” de “parte a parte”. “História, isso já passou, né? A mesma coisa que a gente voltar para a ditadura do Getúlio. São assuntos já escritos em livros, debatidos intensamente. Passado, faz parte da história do país”, disse.
Mourão costuma se posicionar de modo favorável ao golpe militar de 1964, o qual instaurou a ditadura civil-militar no país. Em março, ele chegou a escrever em uma rede social que “em 31 de março de 1964 a Nação salvou a si mesma”.