Foto: Alan Santos/PR
Aliados do presidente temem que ida de Bolsonaro à Rússia seja interpretada no cenário internacional como um gesto de apoio a Vladimir Putin
Na última quinta-feira (27) o presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, em conversa com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, que a viagem para Rússia continua em sua agenda.
Segundo Bolsonaro, a viagem que está prevista para acontecer entre os dias 14 e 17 de fevereiro, terá o objetivo de buscar “melhores relações comerciais” com o país europeu.
Ainda de acordo com o presidente, devem participar da comitiva à Rússia os ministros da Economia, Paulo Guedes, da Defesa, Braga Neto e da Agricultura, Tereza Cristina.
Aliados de Bolsonaro, no entanto, tem desaconselhado o presidente a continuar com a viagem oficial em razão da escalada nas tensões militares entre Rússia e Ucrânia.
Membros do Itamaraty apontam que o episódio pode ser visto como um gesto de apoio ao presidente Vladimir Putin.
Além disso, conselho do Ministério das Relações Exteriores destacou que o Brasil não tem o costume de se posicionar a respeito de conflitos como este e, por isso, desaconselhou qualquer declaração do presidente sobre o tema na viagem.
O assessor para Assuntos Especiais da Presidência, Filipe Martins, também sugeriu que Bolsonaro realizasse uma visita à Ucrânia após a viagem à Rússia como forma de reafirmar que o Brasil não está tomando um lado neste conflito.
O governo brasileiro também foi acionado pela Casa Branca, que avalia que a ida de Bolsonaro à Rússia não seja apropriada em um momento como este.
O presidente americano, Joe Biden, declarou que o Brasil deve ter o compromisso de “defender os princípios democráticos”.
Crise entre Rússia e Ucrânia
A tensão entre Rússia e Ucrânia tem ganhado força nas últimas semanas após a movimentação de tropas militares na fronteira entre os países. A crise entre as duas nações acontece desde 2014, após decisão que incorporou a península ucraniana da Criméia à Rússia.
De acordo com o professor Maurício Santoro, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), “a causa última de todos esses conflitos envolvendo a Ucrânia é definir qual é a esfera de influência da Rússia, dos Estados Unidos e da União Europeia no Leste da Europa”.
A crise atual também possui resquícios ligados à Guerra Fria. Pesquisadores avaliam que Putin deseja mostrar ao mundo que a Rússia ainda se encontra entre as principais potências mundiais, assim como esteve durante a União Soviética.
Moscou deseja o compromisso da Ucrânia de não ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o que mostra o desejo do Putin de manter o Leste Europeu livre das influências ocidentais.
Os líderes mundiais tem manifestado medo quanto a possibilidade de uma guerra entre os dois países. Em outras palavras, o confronto teria implicação em todo o mundo.