Cerca de 34 milhões de brasileiros não têm acesso a rede de água tratada
O mundo atravessa uma crise sanitária causada pelo novo Coronavírus, uma das formas de prevenção é a higienização das mãos com água e sabão. Apesar de necessário este recurso não chega de forma igualitária para todos os brasileiros. Segundo o sistema nacional de informações sobre saneamento, cerca de 12 milhões e 700 mil pessoas residem em áreas urbanas não têm acesso a nenhuma rede de água tratada e se for acrescentar a população rural o número cresce para 34 milhões.
A diferença de cobertura de abastecimento entre as regiões do país é muito grande. Como na região Norte, que apesar de contar com a maior bacia hidrográfica do planeta, somente 69% da população tem acesso a água potável.
Proporcionalmente é o pior cenário no Brasil, e no estado do Amapá somente 38% dos habitantes de áreas urbanas têm acesso a água corrente. Observando os números apresentados pelo relatório SNIS, as regiões com maior poder aquisitivo têm um acesso maior à rede de água tratada do que o resto do país, pois o Sul lidera a lista com 98% de abastecimento, seguido do Centro oeste e sudeste com 96%, o Nordeste fica com 88%.
Mesmo em regiões que este índice é maior a diferença ainda é gritante, como por exemplo, no Sudeste que o alcance fica na margem dos 96%, no estado Rio de Janeiro este número fica em 92%, porém a 20 km da capital no município de Belford roxo com uma população de 511 mil habitantes a rede pega somente 76% dos moradores do município, outras cidades da baixada fluminense também enfrentam o mesmo problema. Em Mangá por exemplo, a maior parte do abastecimento é precário, e quando inexistente os moradores usam poços de água comunitários para poder beber, e higienizar-se, caso chova e uma inundação aconteça a água é contaminada.
No sul, mais especificamente no Paraná a SANEPAR órgão responsável pela distribuição e abastecimento no estado, afirma que 72 % da população paranaense tem acesso integral à rede água, isso significa que cerca de 300 mil pessoas no Paraná não contam com este serviço.
O Instituto Trata Brasil criou um Ranking organizando o quadro do saneamento das 100 maiores cidades do Brasil, e o resultado não é animador, pois somente 57 das cidades avaliadas, conseguiram universalizar o abastecimento, ou seja mais de 99% da população residente de forma regularizada tem acesso contínuo a rede água e esgoto, e nesse ranking o pior o pior município é de Ananindeua no Pará, pois somente 32% dos moradores da cidade tem água potável, neste caso não inclui a rede de esgoto.
E entre as 10 cidades com pior distribuição, 4 são capitais e todas elas são da região norte, Belém com 72%, Macapá 75% , Rio Branco 70% e a pior de todas Porto Velho 35%.
Mesmo nas casas com acesso a rede de água encanada não é sempre que o serviço está disponível, segundo o IBGE, em 2018 que pouco mais de 88% dos domicílios têm acesso todos os dias ao serviço. Muitas casas recebem de uma a quatro vezes por semana água em suas torneiras, segundo o próprio IBGE faltam condições para chegar ao número mais preciso de residência sem acesso irrestrito de água durante os sete dias da semana.
Em 2019 o ministério do desenvolvimento Regional revisou o plano nacional de saneamento básico, nessa revisão mostra que apenas 57,7% das casa brasileiras possuem um atendimento adequado de água potável, 39,6% das residências possuem um atendimento precário e 2,7% não tem nenhum tipo de abastecimento. A definição de atendimento precário do plano nacional, é de casa que não possuem encanamento interno ou não possuem água corrente de forma contínua ou não estão recebendo água de forma adequada ou seja possivelmente água inapropriada para consumo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que um adulto necessita de ao menos 110 litros de água por dia para saciar a sede, preparar alimentos e cuidar de forma apropriada de sua higiene pessoal. O consumo per capto dos Brasileiros é de 154 litros por dia, isso levando em consideração o consumo residencial, comercial e industrial. No Amazonas estado este que foi um dos mais afetados pela Covid 19, sendo por um longo período de tempo o epicentro da pandemia no país a medição cai para um consumo de 94 litros, e em Manaus o consumo fica na casa dos 79 litros por pessoa todos os dias, e especialistas apontam que este foi um dos fatores determinantes para a situação disseminação do vírus no Norte do país, somado a falta de adesão ao afastamento social , e uso de equipamentos preventivos como a máscaras.
O doutor Drauzio Varella em entrevista dada para a BBC Brasil em 29 de Abril, de 2020, afirma que o Brasil viveria uma tragédia nacional e pagaria o preço da desigualdade, e ainda exemplificou: “Você vê as palafitas que são os piores lugares que conheci aqui no Brasil, como você mantém aquelas crianças em um barracão de madeira, no norte ou nordeste do país? Em uma temperatura que durante o dia chega a 40 °C, ou até mesmo 50 °C sem água, e muitas das vezes vão buscar de balde em alguns lugares? E a gente fala lave as mão direitinho, olha como você lava é bonito e funciona, mas para quem tem pia em casa”.
Quando o assunto é esgoto, a palavra que descreve a situação do Brasil é calamidade, pois além do distrito federal somente mais 3 estados, coletam mais de 70% do seu esgoto, são eles São Paulo, Paraná e Minas Gerais. O mesmo não se pode dizer do Maranhão, Acre e Amazonas, onde a taxa é fica entre 10% a 20%, ainda na região norte Pará, Amapá e Rondônia este número é ainda menor pois fica uma taxa inferior aos 10%.
Pelo menos 1531 dos 5570 municípios brasileiros nem sequer, tem uma rede coletora de esgoto, e isso acontece até mesmo nos estados tido como desenvolvidos, pois para ser chamado de ruim tem que melhorar muito o sistema de esgoto,é o exemplo de Santa Catarina que a rede de esgoto atinge somente 27%da população, e em Joinville maior cidade do estado apenas 33% da população tem rede de esgoto, e na capital Florianópolis conhecida por ser uma cidade turística a taxa é de 66%, esses números aqui apresentado se refere somente ao esgoto coletado, quando o assunto é esgoto tratado o cenário é ainda mais desolador.
O plano nacional de saneamento Básico (PLANSAB), criado em 2007 e aprovado em 2013, que iria universalizar os serviços de água e esgoto até o ano de 2033, mas o que vemos ultimamente é essa cada vez mais distante, pois pouco mudou de 2013 para hoje. Segundo o IBGE no ano de 2017 um terço dos municípios brasileiros enfrentaram algum tipo de endemia e epidemias ligadas a falta de saneamento, nessa lista além da Dengue, diarréia, verminoses, hepatite, leptospirose, malária, febre amarela, cólera entre outras.